No dia 15 de dezembro de 2022, às 7h00, recebo o telefonema do meu filho para avisar que a Polícia Federal estava à minha procura. Ele sabia porque foi abordado primeiro por ter o mesmo nome seguido de “Júnior”. Perguntei aonde estavam e fui ao encontro dos agentes na antiga sede do jornal Folha do ES. Tinha formato de formigueiro, parecendo em busca de uma quadrilha de alta periculosidade.
O bairro pacato nunca vira uma batida policial daquela magnitude. Apresentei-me e solicitaram para abrir o galpão improvisado de redação com a destruição da sede do periódico na maior enchente de Cachoeiro de Itapemirim-ES, em 2020. Levaram todos os computadores, vasculharam as gavetas dos jornalistas e, por fim, leram o mandado de prisão para minha completa incredulidade.
“Atos antidemocráticos”. Mandado que iniciava com pedido de prisão provisória e terminava com prisão preventiva. Tudo ficou em câmara lenta para meus olhos e a mente acelerada para compreender a tipificação da suposta coação e acusação. Então, só me veio à mente um sequestro político por conta de reportagens investigativas, em especial uma, a denominada “Escândalo do Pen drive”.
Era uma armação do Governo do PSB do Espírito Santo por meio da procuradora geral estadual responsável pela trama, Luciana Andrade, operando como “advocada” do governador Renato Casagrande. Produziram um “dossiê” com base em informações anônimas para gerar um inquérito chamado “Yellow Press”, transliterado: Imprensa Marrom. A missão era prender o jornalista e descretibilizar as reportagens sobre corrupção na licitação do cerco eletrônico do Detran-ES. Pen Drive com mais de 1 Giga de provas de fraude e direcionamento de propinas. Incontestável.
Foi um sequestro político. Enfiaram a petição com o dossiê produzido pela Procuradoria Geral de Justiça do ES sem passar pela Procuradoria Geral da República (PGR), numa burla contra o devido processo legal, para ter certeza do êxito, a prisão que custou a este jornalista 1 ano e 4 dias no presídio de Viana-ES. O excesso de tempo acabou desconstruindo o objetivo maligno, pois sem acusação e denúncia descortinou a perseguição e o bullying judicial.
Fichado como o prisioneiro 135213 (numeração ideológica escolhida pelo crcereiro como deboche – dois 13), o isolamento de 1 ano e 4 dias – sem nenhuma ligação com 8 de janeiro – , a Liberdade de Expressão foi assassinada e um jornalista de 42 anos de exercício somente saiu lambendo as feridas sem deixar de ser um leão rugindo. Coluna ereta durante todo o tempo da prisão e posterior com as medidas protetivas em vigor até à confecção deste artigo na primeira pessoa. Os direitos humanos foram molestados ao extremo. Sofrimento e dores além do corpo, alma espírito. Familiares arrasados.
Curiosamente vejo o senador Marcos do Vall (Podemos-ES), que hoje chora o acossamento do ministro Alexandre Moraes, foi quem pegou nas mãos da procuradora Luciana Andrade e a levou aos braços direito e esquerdo do ministro para setimentar a prisão com receio de ser acusada de crime contra o Estado Democrático de Direito por enganar a PGR que já tinha parecer de convicção na audiência de custória pela “anulação e arquivamento”.
Nunca na história do Espírito Santo um jornalista se submeteu a essa condição insípida de presidiário por cometer o alegado “crime de opinião”, para vergonha das liberdades em todas as suas extensões.
Não se contentaram em utilizar os meios constitucionais previstos. Era preciso marginalizar, prender, talvez matar. Tornei-me idoso dentro do presídio, completando 60 anos no dia 12 de setembro de 2023. Perdi meu irmão aos 57 anos no dia 7 de maio do mesmo ano. Definhou após meu recolhimento do seu convívio. Dormiu perguntando por mim, mas não acordou mais.
Escrevo esta sinopse como pretensão a curto prazo de escreve um livro e como prevenção enquanto estou em plena saúde mental e pronto para continuar meu desiderato de combater o bom combate, guardar a fé, e encerrar a carreira no momento próprio assinalado por Deus.